Cadu Lacerda

Involução

Bio:: Cadu Lacerda, formado em artes pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, iniciou sua trajetória artística através do desenho e da gravura, sempre acompanhando a evolução tecnológica dos multimeios.  Atua intensamente na produção áudio visual com vídeo instalações, pintura, fotografia, música, computação gráfica e arte digital interativa. Desde 2009 trabalha na formulação de conceitos de “Arte Mobile”, com e para dispositivos de comunicação móvel. Seus estudos foram apresentados no MOBILEFEST 2010 – Festival Internacional de Criatividade Móvel no Rio de Janeiro e São Paulo no Museu da Imagem e do Som, como artista expositor e palestrante, e, no FAD 2011 – Festival de Arte Digital no Museu Inimá de Paula em Belo Horizonte. Os temas de sua pesquisa, “Cosmogênese e Antropogênese” estão na criação de avançados algoritmos matemáticos para dispositivos móveis, unindo recursos tradicionais num trabalho de arte colaborativa.

A voz da obra:

“INVOLUÇÃO”

Sou feita de cuba em vidro e metal, desconstruída por muitos anos e pelas mãos de um artista.

Dentro do meu espaço vazio guardo uma nova força iluminada em forma de sinal S.O.S.

Sou posta no chão para ser vista de cima através do oco onde a minha luz se expõe.

Pela parede, também desconstruída, subo em cordas de algodão tomando o contorno de uma árvore da vida.

Sou de prego em aço, amarrada pelas linhas do tempo, que em cada momento cravada precipito minhas lágrimas de cristal.

Estou certa que involuímos na tentativa de superar as oscilações do tempo.

Dançantes formas no monitor.

O princípio do abismo…

Ações infinitamente reproduzidas habitam nosso corpo como o repouso das certezas habitava nossa alma.

Em busca da evolução caminhamos em estradas de bytes, dados, códigos e nos perdemos da delicadeza das cartas escritas à mão, da espera paciente por sua chegada e da hospitalidade mansa dos abraços.

A intenção era aproximar, olhar pra dentro, parecer mais perto, parecer presença.

… Ausência.

Dominamos rios, mares, espaço, tecnologia pra no final matar a saudade com virtuais presenças, trocar a conversa ao vivo por bate papos em salas que nem existem de verdade, replicando a solidão e a individualidade.

Ousadia, ousadia mesmo, é a vibração causada pelo desaparecimento dos limites não pela transmissão de dados!

Invertendo a direção das sombras do tempo, o que virá depois será antes.

Amanhã será ontem.

O um aumenta para o zero que diminui do menos um. 5, 4, 3, 2, 1, 0, -1, -2, -3, -4, -5…

A luz da manhã muda para a madrugada, noite, tarde e o meio dia, novamente para a manhã.

No galho seco, fundo branco do inverno vem o outono de azul, o verão quente do amarelo e a folha verde da primavera.

O que começa termina. Vida é morte e assim é a natureza.

É a involução, onde o que cala consente.

E na ida ao que volta, o que parece ser mais é menos.

O que avança recua e o que é breve já se foi.

Olhando assim o infinito, agora fica fácil entender que o passado não tem fim e o futuro nunca onde começou.

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